outro dia li que o antídoto para o facismo é a alegria. "mas é muito difícil estar alegre quando tudo ao redor é tão triste", pensei na sequência. hoje experimentei a alegria da vacina e mesmo que seja ainda uma alegria bastante solitária, é poderosíssima. acho até que a expressão "injeção de ânimo" foi criada lá no passado só pra descrever esse momento e a gente nem sabia. senti até a voz mudar. "tá mesmo diferente", a Bina confirmou. saiu com uma força que eu nem lembrava que ela tinha. me parece agora que andava escondida pelos escombros desse medo enorme que eu nem tinha realmente a consciência de quão gigante era. ou é. esse medo de morrer. continuo com medo de que os meus morram, é verdade. mas o alívio de poder descansar um tanto o instinto de sobrevivência abriu caminho para uma verdadeira avalanche de vida e fé. "parabéns", o rapaz que se vacinou ao meu lado me disse. "boa sorte", eu respondi. rimos. "o que se diz nesse momento?" perguntamos quase que da mesma maneira. "viva o SUS!" gritamos finalmente. as trabalhadoras que nos vacinaram riram também. a alegria foi bem menos solitária e sua força cresce na medida que se multiplica. acho que a vacina limpou foi um bocado da tristeza dos meus pulmões já bastante surrados e por isso senti minha voz assim, mais potente. cantei pra agradecer e celebrar Oxóssi, a manifestação de Olorum, Deus-Pai-Deusa-Mãe, que se materializa no Conhecimento, na ciência, na tecnologia, na cura, na abundância e na prosperidade. prosperidade e abundância pressupõe partilha. a riqueza de Oxóssi está em saber dividir. não à toa seu par é Oxum, o Amor. no meu terreiro, estamos vivendo 2021 assim, assentados no Amor e no Conhecimento. viva!
